segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sobre sonhos III


Dos sonhos e das coisas ditas, um universo em expansão
o desconectar; um mosaico do íntimo e causas últimas;
do nada concreto, ao silêncio gritante e surreal

Falam, sussurram, injetam
doses de loucuras, paisagem e fulgor
para um labor incrível, sem medida aparente

Um salto para o fim, no desplugue do alvorecer,
devoram-te o sono e algumas memórias em xícara de café
emboladas numa viagem caseira a ermo

É o risco diário do acordar
adeus aos mundos de tantas saudades
vão embora amores e saberes;
amanhecem o tempo e o pulmão

André Café e Verônica Rodrigues













Lança-me Louva-a-deus grená


Engolido e protegido
pela neblina do solo cinza
todas pisam apressados;

Cada lado é rumo desnorteado,
cada rua, esquinas de silêncio

Entre vivos, apenas fila
e solados harmonizados
desgastando notas fúteis
para lá e para o além

Cinzas no chão e olhos
nenhuma fagulha de cor
são sequências de torpor
perambulando na vida

Mas tem quem olhe o Sol
pra saber quanto tempo leva,
pra saber qual o dia da semana
pra saber do calor da luz

E por pura sorte ou destino
por mais cinza que estiver o olhar
resplandece e multicolore
qualquer cena e solidão

Lança-me nos teus olhos vermelhos
no abraço forte e na liberdade do teu voo

André Café


Sobre sonhos II


Um punhado de riscos e rostos distantes,
pedaços cortados anacronicamente
num revelo em desnível constante

Luz e escuridão; entre o espelho e o espaço
alternam o sono e a sonolência
num soluço de passo a passo cadafalso

Profundo mergulho invisível
tácito desejo; tórrido instante
entre os braços, num laço o beijo,
noutro mundo, num sonho impossível

André Café

Sobre sonhos I


Um suspiro revelado;
madrugou e se escondeu
não se sabe por onde andou
até chegar por aqui
e me provocar viagens

Tenho tanto tempo quanto o tempo turva tudo
um risco de lembrança
pra tatear por qual vereda
esse imaginário mundo
quer levar minhas vertigens

Elevam-se as raízes
ao rio que corta as nuvens
debaixo dos nossos pés
apenas o cume do silêncio
num sonho de milhagem

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Esetnís - o diálogo atravessado de amor e luta



Esses tópicos que renascem
fazem as cinzas queimarem de trás pra frente.
Seda duas, por favor, pra aliviar essas saudades,
pra incendiar essas vontades
de entorpecer a vida com a tua.

Presença de futuro que teimamos em projetar
pra um plano maior e mais pra frente do que temos.
Que mudar entre todos nós é ideia proposta em ações.

Irmãos e irmãs mobilizadas em conspirações
de encher de flores o trajeto da caminhada.
Passo a passo lado a lado, nem de frente nem atrás,
Vamos cada dia mais inflamando as cabeças.

E por mais que pareça absurdo,
Vamos gritar tão alto no escuro
É liberdade que se busca num abraço.


A letra A tem meu nome


Não autoridade!
o inverso disto é o que se almeja
o contrário dela é o que se busca
sua negação é o que nos ensina

Não propriedade!
sua destruição é um dos caminhos
à coletividade é que pertence
inexistir é sua sina

Iniquidades; discrepâncias
obsolescências; opressões
a segregação armada:
de um lado os tiros
de encontro aos ecos que sangram
nas fronteiras destes mundos

Não há como simplesmente se engrenar
não há como se deixar coagir
não dá pra ficar, parar, esquecer
pra frente do caminho que dista, seguir

Um, dois, tantos e somos, como sempre soubemos
mas uma força criada, nos fez esquecermos

Mas somos e sabemos, que nada mais será imposto
por nós, apenas por todos nós,uns tantos mundos possíveis

Saúde, amor e anarquia
carrego feito poesia

para todas as dores que me consomem:
a letra A tem meu nome

André Café




segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Ave fênix sangria


Mas como poderia ser?
A mercê de muros inexistentes?
Tampouco de labores invisíveis,
em centelhas inalcançáveis
por contatos impossíveis?

Qual tempo me leva para esse dia?
Qual estação intransponível me transporta pra lugar nenhum?
E lá? Como reconhecerei, sem a autoridade indubitável?

Num carece disso tudo não.
Rebusco, confuso e concreto, minh' alma de poeta
não peço passagem, o fluxo já existe

Entre estas tantas terras criadas do nada
há mais tantas criações do nada, na Terra:
o verso em riste é resistência e plural

Pássaro que nos transporta para outros ares
voa de longe até estas bandas
ressurgem abraços, pedaços, cirandas,
ave fênix sangria, é poesia. de todos os lares

André Café


Mais dose para o olvide


Tenho o costume de rever pessoas esquecidas:
num rosto de um desconhecido,
ou na música que passava naquele dia distante;
no escuro do túnel do metrô,
ou na madrugada errante;
no lado de lá do sonho,
no meio do fervor de um levante

Assim distante, tão tanto de mim
quanto de mim, o que fui, ou o que seria:
nem ao fim da poesia
esquecerei de lembrar você

André Café

Amorcídio

Foto do projeto "Fragmento", do Paradoxo:

Matar saudades é um crime sem pecado,
porque "I míssil"*, camaradas, não é um tiro desgovernado:
o alvo é concreto** e certo.

É querer sem ter por perto as amizades,
é saber-se mais esperto pela vontade
de cortar toda distância num golpe dado de braços:
vem cá, sinto sua falta.

É botar a música mais alta,
e virar de uma vez a cachaça
pra trazer o gosto das lembranças mais felizes
ao teu lado.

É saber que as experiências do passado
nunca mais poderão ser revividas,
e que juntinho das pessoas queridas
só nos resta construir o que há de vir.

Que antes da saudade sumir,
deixa sozinha uma lágrima cair
pra lavar os caminhos do reencontro.

Que nessa hora todo mundo esteja pronto,
vestindo sua melhor gargalhada
pra rever sua gente tão amada.

* "I míssil" referindo-se à produção do Mário Lacorrosivo: http://sociedadedospoetasporvir.blogspot.com.br/2012/03/sinto-sua-falta.html
** "Concreto" em vez de "líquido" por sugestão da Heiza Maria. Obrigado!

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Para sempre Fernanda Costa


Tem daquelas noites que o universo tá impossível
um sem número de estrelas cadentes rasgando o breu
dando lugar pra um cenário de lindeza sem fim

Noite boa, noite única, noite que gira;
num misturado de beleza
com riscos, pelos gritos da natureza
um espetáculo raro, com leveza e fúria

Daí que a vida tem desses casos;
em que estas raras "coisas"
na verdade são pessoas.
talvez assim como as estrelas
apareçam aqui e acolá

Mas elas chegam, voando, correndo
e transformam estes momentos
num espetáculo explodido de coisas boas
uma mistura inexata de sentimentos

Das chuvas de meteoros particular
das quais me orgulho por viver e sentir
ela que é aquarela e vermelho
que tem força e preza o viver,
que abraça o mundo e o medo
é das mais belas que posso conhecer.

Já te chamei de bruta flor
já vi do teu riso ao pranto
já vi tanto, que hoje é tão bom
tudo o que circunda sua vida
como esse A bem forte que emana da gente
ou um Alexandre que tanto te (nos) faz bem

No caminho de desconstruir
me orgulho também de poder estar lado a lado;
esse pouco a pouco é destino,
que a gente se joga para nossos sonhos
e vive, sobretudo para vencer
tudo aquilo que faz a gente esquecer
que a coletividade é nossa construção

Com fé, ferro e fogo
eu rogo por tempos serenos
por permissão e inquietude;
amor eu nem peço tanto ou mais
tu estrela única, já transborda pelo mundo
esse sentimento profundo
sigamos em voo ou em canção
para sentir, vivenciar e existir
com saúde, amor e anarquia

André Café








Um suspiro de calor


Suspenso o suspiro que a tarde arde:
o devorar de fim dos tempos
em apenas um passar de noite;
um pesar devoto
que tinge o açoite

Suspiro ... para além de alvéolos:
infesta, metaboliza e esvazia
coaduna com o espectro revertido;
nos meu olhos, dilúvio
do mais puro libido

Sumo, suplício, sucção:
da gota de rota pelas curvas,
súbita feito abrasador;
sem suspeitas nem culpa
sem necessidade de ser amor

André Café




Poema cor de carne


Tenho alguns poemas perdidos;
uns tantos assim pelo caminho,
outros afim de se perderem

Pra quê o reflexo imundo?
são apenas versos que se deitam
num devir de esquecimento

A letra que não corta mas encerra;
o vão de sangue cor de lágrimas
o caminhar cada vez mais cortejo

Tenho alguns sonhos desnudos
todos assim, pele e garganta
se perdem no amanhecer vadio

André Café